Lá morava Carolina de Jesus. Negra, mãe solteira, de origem muito pobre e semi-alfabetizada ela saiu do interior de Minas (em 1947) para fazer a vida na "cidade da esperança".
Carolina de Jesus
Garantia sua sobrevivência, e a de seus três filhos, vendendo o papel que catava nas ruas da região.
Hoje essas pessoas e seus dramas fazem parte, infelizmente, do cotidiano da imensa maioria de nossas cidades. Mas naquela época, ainda não. Por isso um grande jornal paulista pautou reportagem naquela favela. Lá estando, o repórter "descobriu" que uma das moradoras fazia um diário em que relatava as dificuldades do dia a dia.
Edição de 1960
Era Carolina de Jesus, que escrevia suas agruras em cadernos que achava no lixão. A matéria foi publicada com trechos dos relatos reais e tristes da vida de um favelado. Causou enorme comoção. Em 1959 o diário foi destaque na revista "O Cruzeiro", a mais importante daqueles tempos.
No ano seguinte saiu em livro, que recebeu o título "QUARTO DE DESPEJO". A repercussão foi imediata e espetacular, aqui e no exterior. Foi publicado em dezenas de países.
Edição de 1963
A miséria humana nas grandes cidades foi tese de debates acalorados de considerados nomes da área acadêmica mundial. No Brasil a favelização passou a ser assunto do momento. O livro havia "revelado" uma situação que a sociedade "desconhecia". Era preciso estancar a aceleração desse quadro.
Carolina virou celebridade, ganhou dinheiro (dizem que muito menos do que deveria) e saiu da favela.
Mas as coisas não aconteceram como num conto de fadas. Na nova vida enfrentou forte preconceito, foi enganada e perdeu apoio e dinheiro.
Escreveu outros livros: "Casa de Alvenaria" (1961), "Provérbios" (1963), "Pedaços da Fome" (1963) e "Diário de Bitita" (publicado post mortem,em 1982). Nenhum deles fez sucesso.
Ela morreu pobre e esquecida em 1977, com 62 anos.
Outros livros da Estante: aqui.
2 comentários:
Só ouvi falar dessa obra na pós-graduação. É lastimável a pouca importância que o ser humano tem nesta sociedade de aparências.Parabéns pela lembrança.
Grato, Bia, pela visita e simpático comentário. Um abração. Volte sempre.
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